sábado, 31 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 6

FAMÍLIA ANSERMET (1)
O vinhateiro Jean-Elie Ansermet contava 40 anos ao embarcar no Elisabeth-Marie. Natural do Cantão de Vaud, francófono e calvinista, chegou ao Brasil juntamente com sua mulher Suzanne Henriette Marguerite Ormond, 40 anos, e os filhos François-Joseph, 15 anos, Jean-François, 12 anos, Jean-Henri, 10 anos e Jean-David, 7 anos. Todos ocupariam na colônia de Nova Friburgo, a casa 93 e o lote 16. Destes, somente François-Joseph (também assinalado como François-Louis, deixaria descendentes conhecidos, de seu matrimônio com a também imigrante Françoise Toffel.
Outro dos colonos, Jean-Henri, morreria em Cantagalo, aos 20-03-1845, vítima de assassinato.
FAMÍLIA ANSERMET (2)
Françoise Ansermet, 20 anos, calvinista, francófona e natural do Cantão de Vaud, chegaria ao Brasil a bordo do Urania. Parente próxima da familia homônima, ocuparia ela na colônia a casa 95 e o lote 78, casando-se após abjuração, com Jean-Abraham Beroud, também de Vaud. O casal teria se radicado em Ubatuba, a partir de 1821.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

4 - AS NEGOCIAÇÕES


Se para parte da população suíça, abandonar os cantões natais se afigurava como sobrevivência, destas circunstâncias se prevaleceria um cidadão de Gruyères, de vida vagamente aventuresca, chamado Sebastien-Nicolas Gachet, que – aliado a um francês, Jean-Baptiste Jerome Brémond, ferrenho defensor do antigo regime – pretendia obter vantagens financeiras do momento histórico.
Este cidadão, em maio de 1817, declara junto às autoridades cantonais, estar proposto a se estabelecer como fazendeiro no Brasil, representando também os produtos manufaturados suíços no país. Os planos de Gachet evoluiriam ao perceber o interesse do Cantão de Fribourg em se livrar dos estrangeiros e do excedente populacional, conseguindo ele do Conselho de Polícia o apoio necessário para obter sem grande dificuldade, uma carta de apresentação que na prática o transformaria em um agente diplomático encarregado de negociar junto à corte portuguesa, o estabelecimento de seus compatriotas no Brasil.
Na verdade, se o objetivo explicitado é o de manter um fluxo de colonização permanente para terras brasileiras; em caráter particular e sem que as autoridades de Fribourg o saibam, o "cidadão de Gruyères"
[1], chegado ao Rio de Janeiro em 3 de outubro de 1817 no veleiro francês Emilie, deseja propor também ao soberano português a exploração por um grupo de capitalistas, da citada colônia, cuja empresa atuaria concomitantemente como agência de imigração e sociedade colonizadora. A empresa adiantaria aos suíços e moradores da Suíça desejosos de partir, as quantias necessárias, ficando, contudo, como única proprietária das terras concedidas pelo governo português, além do direito de comercialização exclusiva na Europa, de alguns produtos brasileiros mantidos sob monopólio da coroa (diamantes, madeira de lei etc.), podendo mesmo dispor da terça parte do que lhe seria consignado pelo próprio governo.
Recebido pelo soberano ainda em outubro, se mostraria este diplomata assas habilidoso em suas explanações. Ele, que segundo dados do Registro de Estrangeiros, era de estatura baixa, possuindo uma espessa barba negra e acentuada curvatura na região lombar
[2], encarrega-se na audiência, de exaltar virtudes do colono suíço sobre os demais não só pelo conhecimento técnico das práticas agrícolas e pecuárias mas igualmente pelo que considera suas características conservadoras, contrastantes com as idéias revolucionárias que havia pouco, grassavam em quase toda a Europa. Demonstrando uma singular percepção quanto ao imaginário das elites lusitanas aqui chegadas nove anos antes, enfatiza o reservatório humano que poderá representar seu país, atendendo certamente às declaradas aspirações brasileiras em direção a uma expansão econômica e demográfica. Tendo em mente uma colonização de fluxo permanente sob a égide da sociedade migratória, chega mesmo este singular diplomata a acenar com o fornecimento anual de 2.000 indivíduos.
A resposta brasileira é positiva. O principal objetivo da viagem de Gachet, porém, será logo descartado pela recusa do governo português em tratar a migração através de uma intermediação privada. No entanto, as autoridades lusitanas, sensíveis aos argumentos de um crescimento demográfico calcado no que se afigurava como um contingente de laboriosos indivíduos, católicos e fiéis a coroa de adoção, bem como oriundos de um país que jamais se poderia contrapor a Portugal em reivindicações futuras, aceitam a proposta, desde que tratada diretamente com os governos cantonais.
A questão recolocada em suas bases originais exigiria naturalmente de Portugal a nomeação de um representante junto a Dieta Helvética, conforme o próprio Gachet assinala ao príncipe João. Frustrado, pois, em seu interesse maior, o ardiloso diplomata reconduz o obscuro sócio ao centro nevrálgico dos acontecimentos, sugerindo o nome de Brémond, na qualidade de fervoroso realista e "antigo secretário de S.M. Luiz XVI", para o consulado português na Suíça. Tal proposta, equivalente na prática a se entregar ao lobo a guarda do rebanho, será efetivada em 2 de maio de 1818, quando o Ministro Thomaz Antonio de Villa Nova Portugal, que sucedera o reticente Ministro Bezerra, notifica a Dieta Helvética sobre a nomeação.
As negociações não se desenvolvem sem oposição da Inglaterra, principal aliada de Portugal, para a qual certamente o estabelecimento no país , de artífices e tecelões, poderia comprometer a dependência brasileira quanto ao manufaturado britânico. A este adversário reservaria Gachet, nos incontáveis textos que produziu ao longo de 1818, o traço mais ferino de sua pena, denominando-o "inimigo de todos os governos", buscando "aniquillar em todas as nações as artes, a indústria, e o comércio, e apoderar-se da autoridade para estabelecer a sua tyrania e o seu monstruoso monopólio exclusivo".
Em sua tarefa de atribuir aos britânicos toda a sorte de mazelas que viessem a ter como efeito causar impacto junto a aristocracia e a classe dominante, Gachet habilmente se reporta a revolta de escravos ocorrida anos antes no Haity:

"Não foi ella que excitou os espiritos para a revolta dos negros e mulatos de S. Domingos, que lhes forneçam armas e munições de guerra, pa. se subtrahirem pr. ella a authoridade legitima e que se apressou de reconhecer a Independência d'aquelles assassinos ainda … sangue de seus senhores e de seus benfectores?"

Desnecessário questionar quais os supostos benefícios que haveria em ser escravizado e o texto de Gachet, no que se refere aos cativos, já antecipa claramente o que ocorrerá na colônia, adotando o imigrante sem qualquer restrição os costumes vigentes, tornando-se proprietário de escravos sempre que as suas condições sócio-econômicas o permitiam. De qualquer forma, o diplomata gruyeriano demostra uma vez mais ser um habilidoso defensor de suas posições e um atento articulador quanto a distinção das preocupações emergentes naquela sociedade pós-colonial.
Ao longo dos primeiros meses de 1818 os partidários da migração gradualmente se fortalecem, prevalecendo sobre a facção tradicionalista que apoiava as posições inglesas. Ao contrário da migração permanente, contudo, o governo decide por uma experiência inicial, a partir da qual se avaliaria a conveniência ou não de um fluxo constante. Em contrapartida, os interesses da corte em uma migração militar associada, para a criação no Rio de Janeiro, de um regimento de estrangeiros, não encontrará eco entre os administradores cantonais. Restava pois, escolher o sítio exato para a futura colônia e formular o tratado definitivo.
[1] Como também é referido Nicolas Gachet no Brasil.
[2] AN – Entrada de Estrangeiros.

sábado, 24 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 5

FAMÍLIA ANDRIÉ
Jean Louis Andrié, protestante, natural de Neuchatel, chegou ao Brasil com 29 anos, a bordo do Debby Elisa. Uma vez em Nova Friburgo ocuparia ele a casa 93 e o lote agrícola 06. Sua estadia na colônia, no entanto, é breve, partindo ele em março de 1822 para Minas Gerais. Em 1824 já será assinalado em Cantagalo.
Curiosamente, em fevereiro de 1836, o pastor luterano Frederic Oswald Sauerbronn, refere-se a um "Johann Ludwig Andrä", radicado no Rio de Janeiro. Será uma adaptação do nome do imigrante, ao alemão?
FAMÍLIA ANKLIN
O ferreiro Jean Anklin, germanófono, católico e nascido em Liesberg, Jura, no ano de 1772, embarcaria no Camillus, juntamente com a esposa e sete filhos. Destes, a mulher Marianne e o pequeno François, de 14 anos, sucumbiriam no navio, tendo os corpos lançados ao mar. Os sobreviventes ocupariam na colonia a casa 72 e o lote 37, partindo em torno de 1825, para Campos dos Goytacazes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

3 - A MIGRAÇÃO SUÍÇA DE 1819 - MOTIVAÇÕES LUSO-BRASILEIRAS


No Brasil, desde meados do século XVIII já se anteviam os contornos do aparato ideológico que desaguaria quase cem anos após na migração européia. Em um trabalho formulado em 1753, o padre jesuíta Ribeiro da Rocha
[1], talvez o primeiro intelectual a se preocupar especificamente com a escravidão, alertava sobre os, para ele, temíveis "domésticos-inimigos", no caso os cativos cuja população crescia ano após ano, mormente pelo tráfico constante.
As preocupações explicitadas pelos teóricos que o seguiram, transcendiam também a mera administração do conflito inerente a polarização senhor-escravo, e desaguavam na exigüidade de brancos frente a fabulosa onda negra, incluindo-se entre estes o grande número de alforriados. Ainda assim, os primeiros indivíduos que abordam explicitamente a questão do negro no Brasil não pregam ainda a solução imigracionista, limitando-se a acentuar os perigos originados da disparidade numérica entre dominados e dominadores, questionando-se sobre o que fazer em uma suposta e posterior emancipação. Tais reflexões, surgidas em uma sociedade que apenas iniciava sua trajetória de colônia para país independente, seriam influenciadas pelo crescente medo suscitado ante as revoltas escravas, notadamente a bem sucedida rebelião de São Domingos, iniciada em finais do século XVIII, a qual culminaria na independência do Haiti em 1804 e na conseqüente subversão das relações entre antigos senhores e escravos, na ilha.
Os textos emancipacionistas de então, longe de expressar uma repulsa ao modelo escravista pelo que continha de injusto, prendiam-se aos temores quanto a segurança pessoal da classe dominante "pela multiplicação indefinida de uma população heterogênea inimiga da classe livre"
[2], bem como, abordavam de maneira surpreendentemente crua questões como a do sangramento de divisas ao qual estava exposto o país pela compra no exterior daqueles que "viveriam apenas o curto espaço de oito a dez anos"[3]. Opunha-se, pois, a maioria destes teóricos, ao tráfico negreiro, bem como procuravam "construir" uma nacionalidade através de postulados nos quais "recuperariam" as populações pobres e marginalizadas (índios, negros emancipados e brancos pobres) para, sob severa vigilância e normatização virem estes a se tornar produtivos segundo a ótica e para a classe dominante.
Gradualmente esta posição, no que tange ao aproveitamento predominante do elemento nativo e da população já existente modifica-se, notadamente com a "cientificização" por parte principalmente de intelectuais europeus, da suposta inferioridade racial do negro e do índio. Desnecessário afirmar que os lugares destinados ao progresso na estratificação pretendida, correspondia aos brancos entre os quais figurava com destaque a decantada "raça saxonica"
[4].
Cabe naturalmente aqui uma pequena ressalva e o que hoje se nos parece cristalino, posto que nos baseamos em fatos já ocorridos, não terá sido certamente um caminho único e sem variáveis, tampouco linear, mas sujeito a avanços e recuos. Na verdade, o triunfo da corrente emigracionista somente ocorreria a partir da segunda metade do século XIX, sendo evidente, porém, que os fantasmas que provocaram as mudanças tal como ocorreram, já de muitos anos habitavam o imaginário das elites e desta forma podemos considerar a migração suíça para Nova Friburgo, como o ensaio de uma tendência que se firmaria a partir de então.
Para Portugal, aceitar a migração estrangeira para o Brasil nos primeiros anos do século XIX, implicava na abolição das restrições ainda em vigor. Em arrastada decadência e zeloso de seus domínios ultramarinos, o reino português entendia o estabelecimento de estrangeiros em sua porção da América como grave ameaça ao pacto colonial e mesmo a posse efetiva do território. A fuga em 1808 da dinastia Bragança em direção ao Brasil, acompanhada por um séquito de militares, nobres palacianos, burocratas e religiosos, comprometerá toda a cristalizada lógica na qual repousava a política lusitana. Portanto, a necessidade de se ver o Brasil não mais como colônia, mas como virtual metrópole, com cujos problemas haveriam de conviver seus expatriados dirigentes por tempo indeterminado, bem como a dependência desta mesma classe aos aliados britânicos tornarão imperativas soluções que a modorra palaciana de Lisboa, tranqüilizadoramente longe, pudera até então postergar. O país desta forma experimentava também parte dos ventos convulsionados de uma Europa pós-revolução francesa e não bastando as guerras napoleônicas, tinham as elites, aparentemente a salvo na América, que estremecer ante o que se lhes afigurava como a ameaça do negro.
A transferência da corte portuguesa para o Brasil, exerceria, portanto, o papel de catalizador de um longo processo, no qual o estado nacional deveria ser edificado sob a égide política, étnica e cultural européia, cujos dirigentes, uma vez deste lado do Atlântico, constatariam ser a população branca, insuficiente, sob vários aspectos, para conduzir o país pelas sendas que o levariam a ser o “arbitro” do mundo. Uma vez decretado o colapso do colonialismo tradicional, restava a remoção gradual dos éditos proibitivos, inserindo-se em tal contexto o estímulo à entrada dos açorianos e a permissão para que estrangeiros tivessem acesso a terra. Objetivava-se em curto prazo, não só o incremento da produção de gêneros alimentícios, bem como a ampliação do mercado interno.
Quando, pois, Sebastien-Nicolas Gachet, chegou ao Brasil trazendo no alforge a proposta de uma colonização helvética, na qual ele próprio e seu sócio capitalista Jerome Brémond
[5] (francês e realista fanático) esperavam auferir grandes somas e uma série de vantagens comerciais, o cenário na Corte do Rio de Janeiro não poderia ser mais propício. Estava, pois, aberto o caminho que levaria ao deslocamento de mais de dois mil indivíduos de seus cantões de origem, atraídos por mirabolantes propagandas e sub-reptícias articulações entre Gachet e Brémond, cujo trajeto e assentamento custaria a bagatela de mais de quinhentas vidas.


[1] Azevedo, Celia M. M. de .Onda Negra, Medo Branco. Paz e Terra
[2] Idem
[3] Idem
[4] Idem
[5] Segundo Benoît de Diesbach-Belleroche, Jean-Baptiste Jérôme Brémond, dito “cadete”, nasceu em Brignoles (Var, França) em 08/02/1760 e faleceu em Semsales, Fribourg, aos 10/11/1839. Era filho de Jean-François Brémond, “marchand de draps” em Brignoles, e de Elisabeth Saurin. Burguês de Progens em 06/03/1829 e de Grattavache em 28/03/1829, deixara a França durante a Revolução, refugiando-se em Chavannes près La Neuveville (Suíça) e depois em Neuchâtel. Em 1796 adquiriria a fabrica de vidros e as minas de Semsales. Foi também cônsul de Espanha e de Portugal e Algarves na Suíça. Casou-se em 1804 com Salomé Lugeon, de Chevilly, nascida em Nyon, Suíça.

domingo, 18 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 4

FAMÍLIA ALTER
Anton Alter, sapateiro de expressão alemã, católico, nascido em 09-12-1791, habitava a vila de Roderis, Cantão de Soleure, ao se decidir pelo Brasil. Passageiro do Heureux Voyage, sem passaporte, ocuparia em Nova Friburgo a casa 85 e o lote agrícola 28. Engajado no Regimento de Estrangeiros, criado por Pedro I em 1823, seria preso tres anos depois como desertor. Não há registro posterior sobre este imigrante, na colonia suíça.
FAMÍLIA AMUAT
Jean-Baptiste Amuat, o patriarca desta família, fora condenado a 20 anos de prisão por haver furtado alguns pães durante o ano de penúria (1817), pena esta convertida em degredo para o Brasil. Natural de Porrentruy, Jura, católico e nascido em 02-02-1788, embarcaria ele no Heureux Voyage, juntamente com a esposa Marie-Rose Schimid, 27 anos, e os filhos Marie-Hélene, 6 anos, e Antoine, 3 anos. Todos chegariam a bom porto, no entanto, a família em abril de 1821, abdica da casa 54 e dos direitos sobre parte do lote 04, partindo para Lisboa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 3

FAMÍLIA AGUET
O padeiro Pierre Aguet, católico que se expressava em francês e alemão, habitava a vila de Estavayer-le-Lac, Cantão de Fribourg, ainda que sua família fosse natural de Vaud. Ele embarcou no Urania para o Brasil, juntamente com a esposa Marie-Anne Ramuz, chegando a bom porto. Na colonia de Nova Friburgo viria a ocupar a função de alcaide, desentendendo-se em pouco tempo, no entanto, com o inspetor da colonização estrangeira. A ele e esposa seriam destinados a casa 68 e o lote agrícola 66, não havendo qualquer referência ao nascimento de filhos. O casal faleceu em data incerta, após 1828.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

2 - A MIGRAÇÃO SUÍÇA DE 1819 - MOTIVAÇÕES SUÍÇAS

Desde a Idade Média cultivaria a população suíça uma inegável vocação migratória, provocada principalmente pelo crônico desequilíbrio entre demografia e economia. O êxodo inicialmente assumiria característica temporária, como o recrutamento de soldados por nações estrangeiras e as viagens de artífices, que se afastavam dos cantões natais apenas em determinadas épocas do ano. A partir do século XVIII, no entanto, o deslocamento se reveste de um caráter definitivo, com grandes levas de suíços ocupando regiões da Prússia, Espanha e Rússia. No século XIX, o sonho americano substituirá a Europa e a seta migratória desloca-se para o Novo Mundo, movimento que iria se manter até cerca de 1890, quando finalmente a industrialização efetiva do país e sua estabilidade econômica, revertem a tendência imposta pelo imperativo geográfico. Desta forma, se o movimento migratório para o Brasil em 1819 traz em seu bojo as frustrações pela crise econômica dos anos de 1816 e 1817, tal escolha há muito fazia parte da história helvética.
Mas o que terá sido especificamente esta crise? Combalida por anos de guerra até 1815, a França, sob cuja esfera permanecera a Suíça por cerca de dois séculos, tentava proteger a sua própria economia através de elevadas tarifas aduaneiras. Tal circunstância iria se mostrar sobremaneira danosa para o pequeno vizinho que dependia em grande parte do mercado gaulês, mormente que, no restante da Europa, o produto industrializado suíço sofria a implacável concorrência do similar britânico, multiplicando o desemprego.
À paralisação da indústria se seguiria uma carência alimentar motivada por desfavoráveis condições climáticas, desastrosas para as colheitas de 1817. A crise conjunta reflete-se em todas as comunidades, produzindo uma legião de mendicantes, de miseráveis, de desesperados. Chegava, pois, o momento de emigrar em massa para o Novo Mundo, ainda que aos rigores do mar se somassem muitas vezes os riscos que representavam os comissários inescrupulosos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

LITERATURA SOBRE O TEMA


ARAÚJO, João Raimundo de e MAYER, Jorge Miguel (org.). Teia Serrana - Formação Histórica de Nova Friburgo. Ed. Ao Livro Técnico, 2004.
BON, Henrique. Imigrantes - A saga do Primeiro Movimento Migratório Organizado rumo ao Brasil às portas da Independência. Ed. ImagemVirtual, 2004.
BON, Henrique. A Noite dos Peregrinos. Ed. ImagemVirtual, 2008
DUCOTTERD, Georges e LOUP, Robert. Terra! Terra!. Ed. Guiapar, 1997.
NICOULIN, Martin. A Gênese de Nova Friburgo. Fundação Biblioteca Nacional, 1995.

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 2

FAMÍLIA AEBY (1)
Hans Aeby, sapateiro de Profissão, natural de Wunnewill, Cantão de Fribourg, germanófono e luterano, tinha 50 anos ao embarcar no Deux-Catherines. Ocupou na colônia de Nova Friburgo, a casa 52 e o lote agrícola 50, falecendo, contudo, ainda solteiro, em 12-04-1827.
FAMÍLIA AEBY (2)
O padre Joseph Aeby, inserido no movimento migratório para atender os colonos de lingua germânica, contava 25 anos ao embarcar no Heureux-Voyage. Natural da cidade de Fribourg, faleceu por afogamento no rio Macacu, antes mesmo de chegar a Nova Friburgo, em 07-01-1820.

sábado, 10 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS

Assinalaremos aqui os indivíduos que participaram da migração de 1819, bem como uma pequena história de cada um.
FAMÍLIA ADDY:
Benoît-Nicolas - Cultivador de profissão e nascido em 21-03-1789, era ele natural de Orsières, Cantão do Valais. Viajou no veleiro Heureux Voyage juntamente com a esposa Anne-Lucie ...?..., nascida em 10-06-1787. O casal perdera um filho de nome Nicolas, com cerca de um anos, em Dordrecht, aos 19-08-1819, pouco antes do embarque.
Em dezembro de 1819, nas proximidades de Tambí, lhes nasceria João Mauricio Addy, o qual não sobreviveria um mês, falecendo em Nova Friburgo aos 17-01-1820. Uma filha, Maria Theotita, viria ao mundo em 26-04-1822. Esta se casaria em Nova Friburgo com João Luiz Tardin, filho de imigrantes, deixando vasta descendência em Sâo José do Ribeirão.
Esta família, nos primórdios da colonia, ocuparia a casa 13 e o lote agrícola 39.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

1- A MIGRAÇÃO SUÍÇA DE 1819 - INTRODUÇÃO

Este blog destina-se a pesquisar, divulgar e disponibilizar dados sobre um episódio ainda obscuro da história nacional, relegado, por vezes, a duas ou três linhas em publicações esparsas, ou seja, a migração suíça de 1819, que deslocaria da Europa Central cerca de 2000 indivíduos, destinados à Colônia de Nova Friburgo. Desde a saída de seu país natal até o Brasil, este contingente seria dizimado em função de multiplos fatores, o que resultaria na morte de um em cada quatro imigrantes, no litoral holandês, a bordo ou nos primeiros meses de adaptação aos trópicos.
Analisaremos ainda, sob os pontos de vista histórico, sociológico e econômico, a trajetória - na medida do possível, uma vez decorridos quase dois séculos - de cada um dos colonos, fornecendo aos interessados no estudo deste primeiro movimento migratório institucionalizado para o Brasil, elementos para a compreensão do mesmo através de uma leitura alicerçada nos preceitos da história do cotidiano.
Este trabalho, enfim, pretende se tornar um respeitoso tributo a todo imigrante, a todo individuo que, seja por guerras, fome, expulsão ou aventura, experimentou tal desenraizamento e nele viveu ou morreu.