No Brasil, desde meados do século XVIII já se anteviam os contornos do aparato ideológico que desaguaria quase cem anos após na migração européia. Em um trabalho formulado em 1753, o padre jesuíta Ribeiro da Rocha[1], talvez o primeiro intelectual a se preocupar especificamente com a escravidão, alertava sobre os, para ele, temíveis "domésticos-inimigos", no caso os cativos cuja população crescia ano após ano, mormente pelo tráfico constante.
As preocupações explicitadas pelos teóricos que o seguiram, transcendiam também a mera administração do conflito inerente a polarização senhor-escravo, e desaguavam na exigüidade de brancos frente a fabulosa onda negra, incluindo-se entre estes o grande número de alforriados. Ainda assim, os primeiros indivíduos que abordam explicitamente a questão do negro no Brasil não pregam ainda a solução imigracionista, limitando-se a acentuar os perigos originados da disparidade numérica entre dominados e dominadores, questionando-se sobre o que fazer em uma suposta e posterior emancipação. Tais reflexões, surgidas em uma sociedade que apenas iniciava sua trajetória de colônia para país independente, seriam influenciadas pelo crescente medo suscitado ante as revoltas escravas, notadamente a bem sucedida rebelião de São Domingos, iniciada em finais do século XVIII, a qual culminaria na independência do Haiti em 1804 e na conseqüente subversão das relações entre antigos senhores e escravos, na ilha.
Os textos emancipacionistas de então, longe de expressar uma repulsa ao modelo escravista pelo que continha de injusto, prendiam-se aos temores quanto a segurança pessoal da classe dominante "pela multiplicação indefinida de uma população heterogênea inimiga da classe livre"[2], bem como, abordavam de maneira surpreendentemente crua questões como a do sangramento de divisas ao qual estava exposto o país pela compra no exterior daqueles que "viveriam apenas o curto espaço de oito a dez anos"[3]. Opunha-se, pois, a maioria destes teóricos, ao tráfico negreiro, bem como procuravam "construir" uma nacionalidade através de postulados nos quais "recuperariam" as populações pobres e marginalizadas (índios, negros emancipados e brancos pobres) para, sob severa vigilância e normatização virem estes a se tornar produtivos segundo a ótica e para a classe dominante.
Gradualmente esta posição, no que tange ao aproveitamento predominante do elemento nativo e da população já existente modifica-se, notadamente com a "cientificização" por parte principalmente de intelectuais europeus, da suposta inferioridade racial do negro e do índio. Desnecessário afirmar que os lugares destinados ao progresso na estratificação pretendida, correspondia aos brancos entre os quais figurava com destaque a decantada "raça saxonica" [4].
Cabe naturalmente aqui uma pequena ressalva e o que hoje se nos parece cristalino, posto que nos baseamos em fatos já ocorridos, não terá sido certamente um caminho único e sem variáveis, tampouco linear, mas sujeito a avanços e recuos. Na verdade, o triunfo da corrente emigracionista somente ocorreria a partir da segunda metade do século XIX, sendo evidente, porém, que os fantasmas que provocaram as mudanças tal como ocorreram, já de muitos anos habitavam o imaginário das elites e desta forma podemos considerar a migração suíça para Nova Friburgo, como o ensaio de uma tendência que se firmaria a partir de então.
Para Portugal, aceitar a migração estrangeira para o Brasil nos primeiros anos do século XIX, implicava na abolição das restrições ainda em vigor. Em arrastada decadência e zeloso de seus domínios ultramarinos, o reino português entendia o estabelecimento de estrangeiros em sua porção da América como grave ameaça ao pacto colonial e mesmo a posse efetiva do território. A fuga em 1808 da dinastia Bragança em direção ao Brasil, acompanhada por um séquito de militares, nobres palacianos, burocratas e religiosos, comprometerá toda a cristalizada lógica na qual repousava a política lusitana. Portanto, a necessidade de se ver o Brasil não mais como colônia, mas como virtual metrópole, com cujos problemas haveriam de conviver seus expatriados dirigentes por tempo indeterminado, bem como a dependência desta mesma classe aos aliados britânicos tornarão imperativas soluções que a modorra palaciana de Lisboa, tranqüilizadoramente longe, pudera até então postergar. O país desta forma experimentava também parte dos ventos convulsionados de uma Europa pós-revolução francesa e não bastando as guerras napoleônicas, tinham as elites, aparentemente a salvo na América, que estremecer ante o que se lhes afigurava como a ameaça do negro.
A transferência da corte portuguesa para o Brasil, exerceria, portanto, o papel de catalizador de um longo processo, no qual o estado nacional deveria ser edificado sob a égide política, étnica e cultural européia, cujos dirigentes, uma vez deste lado do Atlântico, constatariam ser a população branca, insuficiente, sob vários aspectos, para conduzir o país pelas sendas que o levariam a ser o “arbitro” do mundo. Uma vez decretado o colapso do colonialismo tradicional, restava a remoção gradual dos éditos proibitivos, inserindo-se em tal contexto o estímulo à entrada dos açorianos e a permissão para que estrangeiros tivessem acesso a terra. Objetivava-se em curto prazo, não só o incremento da produção de gêneros alimentícios, bem como a ampliação do mercado interno.
Quando, pois, Sebastien-Nicolas Gachet, chegou ao Brasil trazendo no alforge a proposta de uma colonização helvética, na qual ele próprio e seu sócio capitalista Jerome Brémond[5] (francês e realista fanático) esperavam auferir grandes somas e uma série de vantagens comerciais, o cenário na Corte do Rio de Janeiro não poderia ser mais propício. Estava, pois, aberto o caminho que levaria ao deslocamento de mais de dois mil indivíduos de seus cantões de origem, atraídos por mirabolantes propagandas e sub-reptícias articulações entre Gachet e Brémond, cujo trajeto e assentamento custaria a bagatela de mais de quinhentas vidas.
[1] Azevedo, Celia M. M. de .Onda Negra, Medo Branco. Paz e Terra
[2] Idem
[3] Idem
[4] Idem
[5] Segundo Benoît de Diesbach-Belleroche, Jean-Baptiste Jérôme Brémond, dito “cadete”, nasceu em Brignoles (Var, França) em 08/02/1760 e faleceu em Semsales, Fribourg, aos 10/11/1839. Era filho de Jean-François Brémond, “marchand de draps” em Brignoles, e de Elisabeth Saurin. Burguês de Progens em 06/03/1829 e de Grattavache em 28/03/1829, deixara a França durante a Revolução, refugiando-se em Chavannes près La Neuveville (Suíça) e depois em Neuchâtel. Em 1796 adquiriria a fabrica de vidros e as minas de Semsales. Foi também cônsul de Espanha e de Portugal e Algarves na Suíça. Casou-se em 1804 com Salomé Lugeon, de Chevilly, nascida em Nyon, Suíça.
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