domingo, 18 de outubro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 15

Família Bazet - De nacionalidade francesa, filho de Jean Bazet e Jeanne Bareil, Jean Julien Bazet foi o primeiro médico da colônia de Nova Friburgo. Nascido em Nay, departamento dos Baixos Pirineus, em torno de 1791, era católico e se expressava em francês e espanhol. Logo ao chegar, através do Camillus, em 1820, seria ele uma das testemunhas de acusação no processo movido contra o diplomata Nicolas Gachet, idealizador suiço do movimento migratório. Uma vez na colonia, além da medicina, exerceria também intensa atividade política, sendo vereador e presidente da câmara municipal em mais de uma ocasião. Casado aos 24-09-1829 com Justine Froidevaux, também imigrante, teria com ela os filhos Julião, Adélia e Hortensia. Deixou descendencia no Brasil até os dias de hoje, através de uma de suas filhas.
Faleceu em data incerta, após 1854. Sua esposa se radicaria em Pau, França.
Família Beaud (I) - François, Joseph e Catherine Beaud, naturais de Aubeuve e provavelmente irmãos teriam se inscrito para a colonia brasileira. Destes, François e Catherine faleceriam a bordo do Urania. Quanto a Joseph, provavelmente não terá embarcado.
Família Beaud (II) - Hilaire Beaud, natural de Aubeuve, Cantão de Fribourg, seria, segundo a documentação de chegada, irmão dos relacionados acima. Passageiro do Urania, nascido em 1799, este imigrante se engajaria, em 1824, no Regimento de Estrangeiros, não mais retornando a Nova Friburgo.
Família Beaud (III) - Michel Beaud, agricultor, passageiro do Daphne, era também natural de Aubeuve, tendo viajado a bordo do Daphne. Católico como os demais e de expressão francesa, foi considerado pelas autoridades brasileiras " aleijado do braço esquerdo e inábil para o trabalho". Casado desde fevereiro de 1822, com Madeleine Robadey, teve com ela pelo menos treze filhos.

domingo, 2 de agosto de 2009

5 - A NOMEAÇÃO DO INSPETOR E A ESCOLHA DO LOCAL

O religioso Pedro Miranda de Machado Malheiro[1], nomeado para o cargo de Inspetor da Colonização estrangeira em 11 de maio de 1818, será o principal artífice quanto ao local em que se estabeleceria o que se acreditava então, ser apenas o primeiro contingente. Descartando o planalto curitibano, opção inicial de Gachet, que se baseara nos relatos de John Mawe[2] quanto a região sul, o Inspetor da Colonização Estrangeira vem a se fixar nas terras pertencentes a Cantagalo. Em sua interpretação, o primeiro grupo, cuja chegada estaria prevista para o ano seguinte, deveria permanecer próximo à corte "por usufruir melhor da proteção real e recorrer mais facilmente às autoridades competentes.”Tal zelo, não de todo injustificado sob a ótica absolutista, encerraria também uma tentativa de vigilância mais eficaz sobre tão grande número de estrangeiros em um país quase desprovido dos mesmos, além do que, se dotaria a província que abrigava a capital do Reino Unido do Brasil, de um expressivo contingente do elemento branco a se erguer como anteparo ante o incremento da população escrava.

A idéia de sedição dos cativos, sempre presente no imaginário das elites, amparava-se na lembrança dos pequenos levantes ocorridos na Bahia a partir de 1807, fomentados em geral por negros islamizados. Sintomaticamente será na antiga capital brasileira que, em 1816, se proporá ao governo "promover a imediata imigração de famílias européias, 100 delas inicialmente, a fim de diminuir o desequilíbrio numérico em favor dos negros”[3], número de famílias este a figurar no tratado referente aos suíços.

Não se desconhece que o fluxo negreiro para o Brasil, mais significativo que o crescimento vegetativo destas populações, acentuara-se com a expansão do café. Ao contrário, pois, de mero substituto do braço cativo na plantação, a vinda organizada de europeus tinha para as elites um caráter de "limpeza étnica" já em 1819, tendência que se firmaria ao longo de todo o século, experimentando o apogeu nas experiências paulistas dos anos oitenta.

Outra razão, de caráter algo obscuro, mobilizará Miranda em seu intento de estabelecer a colônia em tal sitio e a veemência com que vem a defender o território pretendido terá como efeito levantar suspeitas ao menos quanto as suas qualidades de administrador do erário público. Como é sabido, os sertões de Cantagalo, a despeito da proximidade com o Rio de Janeiro e mesmo com as cidades mineiras do ciclo do ouro, haviam sido palco de um povoamento tardio por parte do europeu, contando, pois, ainda em 1818, com terras devolutas ou sobremaneira baratas. Não obstante, decide Miranda adquirir de Monsenhor Almeida, religioso como ele e velho conhecido, a fazenda denominada Morro Queimado, de cerca de três léguas em quadra, por quantia superior a dez contos de réis[4], acrescida de dívida de um conto e quinhentos mil réis.

Em que pese a estranheza de, em um país despovoado o próprio governo proceder a compra de terras por quantia vinte vezes superior ao que custara a mesma ao antigo proprietário, a transação será autorizada pelo próprio rei em 6 de maio de 1818, no mesmo documento em que nomeia seu desembargador do Paço para o cargo de Inspetor da Colonização estrangeira:

"Pedro Machado de Miranda Malheiro, Desembargador do Paço do meu Conselho, Amigo. Eu El-Rei vos envio muito saudar. Tendo aceitado as proposições que me foram feitas por Sebastião Nicoláu Gachet, autorisado pelo Governo do Cantão de Fribourg, pedindo-me o estabelecimento de uma Colônia de várias famílias da Suissa, catholicos romanos, n'este Reino do Brasil; e tendo determinado que ella passe a estabelercer-se no districto de Cantagallo na Comarca desta Cidade, na fazenda do Morro Queimado, que o seu proprietário, Monsenhor Almeida, voluntariamente se offerece a vender para a minha Real Fazenda, por me fazer serviço, e determinando também que vós tivesseis a inspeção desta colonia para cuidardes no seu arranjo e da boa direcção do seu estabelecimento: Houve por bem, por decreto da data desta, nomearvos inspector deste estabelecimento e por esta sou servido autorisar-vos para procederdes à compra da mesma propriedade com o sobredito proprietário della e às mais compras que para o mesmo estabelecimento se fizerem necessárias, para tomardes posse das terras para os meus proprios, e depois repartil-as entre os colonos, mandareis fazer as obras que forem necessarias e tratar do desembarque e acomodações dos mesmos colonos nomeareis pessoa que vos ajude e suppra as vossas vezes, representando nos casos ocurrentes o que fôr necessario pela Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, pela qual recebereis as instruções e as mais providências que se fizerem necessárias, pois da vossa intelligencia e zelo pelo meu real serviço, confio que executareis tudo a minha satisfação. Escripta no Palácio do Rio de Janeiro, em 6 de Maio de 1818. REI."[5]

A venda, que "voluntariamente" Monsenhor Antonio José da Cunha Almeida se prontificara a fazer "para servir a El Rei" renderia pois ao abnegado súdito, um extraordinário lucro, não tendo o mesmo passado despercebido a alguns de seus contemporâneos, como Hypolito da Costa, jornalista brasileiro que de seu refúgio londrino, publica no Correio Brasiliense, ácidas críticas à transação e ao projeto imigrantista[6].

De qualquer modo, Gachet, em visita a Morro Queimado, não faz qualquer restrição à escolha do que seria a partir de então seu principal interlocutor no Brasil. Referindo-se às terras que compõem a fazenda, acredita possuírem as mesmas vantagens de "terem numerozos sítios próprios para o pasto do gado, os quais, posto que montuozos e cheios de mattos, bastarão a sustentar muitos milhares de cabeças".[7]

Miranda adquire ainda mais duas sesmarias contíguas, de meia légua em quadra[8], utilizando para todas as transações, de fundos arrecadados pelo próprio governo através da emissão de apólices pagáveis em oito anos. Entre as despesas, previa-se também a construção de casas, prédio destinado à administração da colônia, armazéns, capela, moinho e demais edificações necessárias a manutenção da vila a ser criada. Quanto aos índios que ainda erravam pela região, seriam eles mandados remover por aviso real, ordenando-lhes aldeamento em outro local para “não serem por elles offendidos os colonos”.[9]

As despesas vultosas com esta migração subsidiada, teriam alcançado, segundo Roberto Simonsen[10] a fabulosa quantia de 1.500 francos franceses por colono, o que se nos afigura um exagero do economista, contudo, as somas envolvidas foram de tal ordem expressivas, que o ministro Thomaz Antônio de Villa Nova Portugal, um entusiasta da migração estrangeira, não mais logrou obter de D. João VI autorização para os assentamentos posteriores, previstos no projeto inicial.



[1] Pedro Machado Miranda Malheiro (ou Malheiros), magistrado e religioso, segundo a Enciclopédia Delta Larousse teria nascido em Guimarães, Portugal, em data ignorada. Doutor em cânones pela Universidade de Coimbra e bacharel em filosofia, foi substituto da cadeira de história eclesiástica da mesma universidade e monsenhor acólito da Santa Igreja Patriarcal de Lisboa. Em 1808, era sargento-mor do batalhão dos privilegiados, voluntários de Nossa Senhora de Oliveira, da vila de Guimarães, sendo promovido a major em 1810 pelos serviços prestados à restauração e a defesa do reino. Desembargador do Paço e da Mesa da Consciência, foi ainda chanceler-mor do reino do Brasil em 1817, juiz conservador e deputado da junta de administração do Tabaco em 1818. Neste mesmo ano será nomeado inspetor da colonização estrangeira, cargo que ocupa até 1821, quando volta a Portugal. Uma vez mais no Brasil e aceitando a nacionalidade brasileira, será reconduzido ao posto por Pedro I. Em 1819 D. João VI lhe concederá a propriedade da capela de Santana de Japuíba e bens dotais a ela pertencentes. Ministro do Supremo Tribunal em 1828, faleceu no Rio de Janeiro em 1839 (Pedro Calmon assinala 1838).

[2] John Mawe, mineralogista inglês, fora em 1809 convidado pela coroa a visitar a região de Cantagalo, para averiguar a incidência de prata em Santa Rita do Rio Negro. Sua passagem por Morro Queimado é documentada pelo próprio, em sua “Viagens ao Interior do Brasil”.

[3] Losada, Gioconda – Presença Negra , Uma Nova Abordagem da História de Nova Friburgo - EDUFF

[4] A sesmaria morro Queimado pertencera antes a Lourenço Correa Dias, que nela pretendera criar gado. Este a cedera pouco antes de 1819 a Monsenhor Almeida. Segundo Thomé Maria da Fonseca e Silva (Revista do IHGB, n. 14) os valores da transferência para o governo, avultariam a 11:854$000 .

[5] Transcrito de Pedro Cúrio – Como surgiu Friburgo

[6] Nicoulin, Martin – A Gênese de Nova Friburgo.

[7] Idem.

[8] Foram adquiridas também as fazendas Córrego d’Antas e São José, destinadas a domínio da coroa.

[9] Cansação de Sinimbu, João Lins Vieira – Notícias das Colônias Agrícolas Suissa e Alemã fundadas na freguesia de S. João Batista de Nova Friburgo. Niterói, 1852.

[10] Simonsen, Roberto – A História Econômica do Brasil

sábado, 25 de julho de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 15

FAMÍLIA BAUNGART
Marie Therese Baungart, de 23 anos era passageira do Heureux Voyage. Católica, de origem incerta (provavelmente Bâle), mas de expressão germânica, ocuparia em Nova Friburgo a casa 85 e o lote 28. Casada em 2 de maio de 1820 com o marinheiro hannoveriano, Christope Jansen, que abandonara o navio para se juntar aos colonos, já em 1824 seu destino é incerto e não sabido.
FAMÍLIA BAVAUD
O cultivador Louis Bavaud, solteiro e natural de Mézières, Cantão de Fribourg, tinha 21 anos ao embarcar no Urania. Empregado do também colono Pierre Gavillet, era católico, expressava-se em francês e na colonia ocuparia a casa 18 e o lote 17. Em 1823, no entanto, abandona a lide agrícola, alistando-se no recém criado Regimento de Estrangeiros da Corte. Sabe-se que daria baixa três anos depois, estando seu destino, desde então, incerto.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 14

FAMÌLIA BAUDIN
Esta família, protestante, francófona e natural do Cantão de Vaud, viajaria a bordo do Elisabeth Marie, ocupando em Nova Friburgo a casa 98 e o lote agrícola 32. Composta por cinco membros; o pedreiro François Baudin, nascido em 1787, sua esposa Marie-Madeleine Beauvais, nascida em 1788 e três filhos menores (Lisette, Jean-David e Nanette), no Brasil lhes nasceria ainda Anna Francisca e Josefa, esta última falecida aos três meses de idade, em agosto de 1822. Desta família restam poucos registros à partir da segunda metade do século XIX, mas certamente, em linha materna terá deixado muitos descendentes.
FAMÍLIA BAUER
A viuva Marie-Barbe Bauer-Juillerat, católica e francófona nascida em 1765 em Rebérvellier, Jura, viajaria a bordo do Deux Catherines juntamente com os filhos Jean Pierre, 1802, Jean Baptiste 1804, e George Ignace, 1809. Em Nova Friburgo ocupariam eles a casa 25 e o lote agrícola 72, sendo que em 1824 Jean Pierre é assinalado em Saquarema. Esta família, nos documentos oficiais ora é assinalada como Bauer e ora como Juillerat.

domingo, 12 de julho de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 13

FAMÍLIA BARTH
Elisabeth Barth, natural de Courroux, Cantão do Jura, nascera a 24/08/1783. Passageira do Debby Elisa, era católica e expressava-se em francês e alemão. Uma das poucas mulheres a emigrar desacompanhada, o Registro Geral de Colonos Suíços assinala junto a seu nome a palavra "douda". Em Nova Friburgo ocupou a casa 59 e o lote 64, casando-se em data indeterminada com o também imigrante Ulrich Kolly, com o qual tem uma filha, Maria Francisca, em 30/10/1821. Faleceu em 08/06/1840.
FAMÍLIA BAUDEVIN
Também assinalada como Bodevin, desta família chegou a Nova Friburgo o agricultor Joseph Bodevin, católico, francófono, natural de Grandvillard, Cantão de Fribourg. Nascido em 02/06/1794 e passageiro do Urania, ele ocuparia na colonia a casa 41 e o lote 51, casando-se com a brasileira Fortunata Maria do Amor Divino, com a qual teria pelo menos quatro filhos. Atualmente esta família, difundida pelo Espirito Santo e Minas Gerais, trás o sobrenome na forma "Bodevan".

sexta-feira, 29 de maio de 2009

OS INDIVÍDUOS SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 12

FAMÍLIA BARDY
O professor de primeiras letras Pierre Bonaventure Bardy era natural de Fribourg, onde nascera em 03/08/1800. Católico, francófono mas com algumas noções de alemão, passageiro do Daphne, ocuparia em Nova Friburgo a casa 22 e o lote agricola 80, o qual não utilizaria em função da atividade profissional. Mestre-escola da colônia suíça, contrai ele matrimonio em 1825 com Catherine Luterbach, natural de Lucerna e viúva que ficara do boticário Leopoldo Boelle. Além da atividade docente, montaria ele, juntamente com a esposa, uma "casa de pasto" (pensão), objetivando um reforço pecuniário. O casal teria pelo menos uma filha, de nome Maria Isabel, mas após sucessivos desentendimentos entre Bardy e as autoridades locais, deixam eles Nova Friburgo, radicando-se em outra região.
FAMÍLIA BARRAS (I)
O cultivador Etienne Barras, nascido em Villarepos, Cantão de Fribourg, em 1797, viajaria no Daphné rumo ao Brasil. Francófono e católico, ocuparia em Nova Friburgo a casa 29 e o lote agrícola 59. Em 1824, no entanto, já se encontra ele desaparecido da colônia, tido como desertor do Regimento de Estrangeiros. Em 1846 vamos encontrá-lo, ainda solteiro, em Cantagalo.
FAMÍLIA BARRAS (II)
Marie Barras, nascida em Fribourg, aos 29/05/1816, viajaria com a mãe, Marie Joseph Colignon, no Daphné. Ocupante da casa 14 e lote agrícola 49 morreria em 17/10/1839, na condição de solteira.

terça-feira, 21 de abril de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 11

FAMÍLIA BAPST
A família do agricultor Jean Bapst, nascido em 1788, era seguramente uma das mais pobres da migração, obtendo auxílio de sua comuna para o traslado ao Brasil. Natural de La Roche, Cantão de Fribourg, francófona e católica, era composta ainda pela mulher Marie Passpland, nascida em 1784 e quatro filhos; Jean-Joseph, 8 anos, Jean-Baptiste, 6 anos, Jean-Jacques, 3 anos e Jean Laurent, de apenas 1 ano. este último viria a falecer ainda na Holanda, antes mesmo da família embarcar no Urania. Os sobreviventes ocupariam em Nova Friburgo a casa 6 e o lote agrícola 12, logo porém, deslocando-se para Cantagalo. Mais quatro filhos nasceriam no Brasil, Alexandre Antonio, João Pedro, Protazio Antonio, Antonia Maria, Maria e um menino, falecido logo após o nascimento, em 1830. Esta família deixou, no presente, vasta descendência, notadamente no distrito de São Sebastião do Paraíba, em Cantagalo.
FAMÍLIA BARD
Composta por nove indivíduos, a família do cultivador Joseph Bard, nascido em 1770, em Semsales, Cantão de Fribourg, era uma das mais numerosas da migração. Com ele viria sua esposa Claudine Hayoz, 46 anos (falecida pouco depois de chegar), e os filhos Marie Françoise, 20, Marie-Josette, 19, Marianne,17, Jean,13, Jean-Joseph,11 (falecido pouco depois de chegar), Joseph, 7, e Marie Madeleine, 4 anos. Passageiros do Urania, ocupariam em Nova Friburgo, a casa 23 e o lote 69, mas gradualmente se deslocam para o distrito de São Sebastião do Paraíba em Cantagalo, municipio no qual, deixam hoje vasta descendência.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMILIAS - 10

FAMILIA BALONECKER
A familia Balonecker, tipicamente camponesa, francófona e católica, natural de Glovelier, Jura, chegaria ao Brasil a bordo do Deux Catherines. Era composta pelo patriarca Joseph Balonecker, nascido em 1770, sua esposa Ursule Bauer, nascida em 1769 e quatro filhos; Dominique, 15 anos, Marie-Joseph, 13 anos, Joseph, 10 anos e Marguerite, 7 anos. Todos chegariam a Nova Friburgo, ocupando a casa 25 e o lote agricola 72. Esta familia se dedicaria a atividade rural por toda a existência, deixando descendentes nos dias de hoje. Dos filhos aqui chegados, somente Dominique, que não possuía o pé direito, morreria solteiro.
FAMILIA BÄNDELY
O tanoeiro e marceneiro Jean Bändely, natural de Fribourg e nascido em 1791, chegaria ao Brasil a bordo do Deux Catherines. Católico, este colono expressava-se em francês e alemão, ocupando em Nova Friburgo a casa 52 e a gleba 50. Solteiro e disposto a grande mobilidade espacial, em 1824 seu destino já não é conhecido.

sábado, 7 de março de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 9

Família Balmat (I)
O moleiro Andre Balmat, nascido em Semsalles, Cantão de Fribourg, no ano de 1767, era francófono e católico. Viajou para o Brasil a bordo do Urania, juntamente com a esposa Marie Françoise Zurkinden e cinco filhos; Anne-Marie Elisabeth, Alexandre, Mariette, Pierre e Jacques. Todos chegariam a bom porto, ocupando em Nova Friburgo a casa 15 e o lote agrícola 37. O casal teria ainda, em terras brasileiras, mais tres filhos; Maria Izabel, Maria Justina e Carolina Adela, legando vasta descendência até os dias de hoje.
Família Balmat (II)
O sapateiro Joseph George Balmat era também de Semsales e viajaria à bordo do Urania. Francófono e católico, não chegaria a Nova Friburgo, falecendo sobre o Atlântico, em 2 de outubro de 1819, igual destino da filha Françoise, de 9 anos. Outro filho, François, de 2 anos, morreria antes do embarque, ainda em Dordrecht. Sua esposa Marie Barbe Mercier, encontraria a morte por sua vez, logo após a chegada, em 5 de junho de 1820, deixando outros cinco filhos em completa orfandade; Marie, 12 anos, Fanchette, gêmea com a anterior, Jean, 10 anos, Catherine, 7 anos e Claudine, de apenas 5. Destes, Jean Balmat, a despeito da orfandade, amealharia fortuna e algum prestigio social, retornando à Europa, a passeio, em pelo menos uma ocasião.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 8

FAMÍLIA ARNI
Joseph Arni, natural de Lommiswill, Cantão de Soleure, germanófono e católico, tinha 40 anos de idade ao embarcar no Heureux Voyage. Uma vez em Nova Friburgo ocuparia a casa 92 e o lote agrícola 74. A partirde 1824, no entanto, seu destino é ignorado.
FAMÍLIA AUFTERMANN
Charles Auftermann seria natural de Schwyz segundo o Registro Geral de Colonos Suiços, ou do Valais, conforme anotações do padre que acompanhou os imigrantes. Nascido em 12-02-1778, católico e de expressão germânica, embarcou no Heureux Voyage rumo ao Brasil. Uma vez em Nova Friburgo, ocupou a casa 74 e o lote 76, falecendo, porém, em 24-10-1821, sem descendentes.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 7

Família Armingaud (1)
O pedreiro Louis Armingaud era natural da Savoia, não tendo, pois, direito a naturalidade de Fribourg, cantão suíço para o qual se deslocara anos antes, em busca de trabalho. Francófono e católico, ele se casaria com a friburguesa Felicité Chappuis, tendo com ela pelo menos quatro filhos, que embarcariam no Urania, em sua totalidade, rumo ao Brasil. Esta família, vivenciando precaríssima situação financeira, logo seria colhida pela tragédia, falecendo o pequeno Joseph, de 4 anos, ainda sobre o rio Reno, François, de 7 meses, na Holanda, Françoise, de 2 anos e Augustin, de 11 anos, no navio. O pai, de 35 anos, já próximo ao litoral brasileiro, também pereceria, vítima das febres intermitentes contraídas ainda na Holanda. Sua esposa, Felicité Chappuis, desembarcaria completamente só. Em Nova Friburgo, ocuparia ela a casa 20 e o lote 19, contraindo novo matrimônio com um viuvo da travessia, também savoiardo, de nome Jean-Baptiste Dessoies, desaparecendo-lhe, desde então, os registros documentais.
Família Armingaud (2)
O savoiardo Victor Armingaud, católico, francófono, 59 anos, provavelmente irmão do patriarca anterior, chegou ao Brasil a bordo do Deux catherines, juntamente com uma filha, Ursule, de 34 anos. Ela se casaria em 1824, com o também imigrante Jean-Alexis Desjacques, mudando-se o casal para Cantagalo. Não há registros documentais posteriores.

sábado, 31 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 6

FAMÍLIA ANSERMET (1)
O vinhateiro Jean-Elie Ansermet contava 40 anos ao embarcar no Elisabeth-Marie. Natural do Cantão de Vaud, francófono e calvinista, chegou ao Brasil juntamente com sua mulher Suzanne Henriette Marguerite Ormond, 40 anos, e os filhos François-Joseph, 15 anos, Jean-François, 12 anos, Jean-Henri, 10 anos e Jean-David, 7 anos. Todos ocupariam na colônia de Nova Friburgo, a casa 93 e o lote 16. Destes, somente François-Joseph (também assinalado como François-Louis, deixaria descendentes conhecidos, de seu matrimônio com a também imigrante Françoise Toffel.
Outro dos colonos, Jean-Henri, morreria em Cantagalo, aos 20-03-1845, vítima de assassinato.
FAMÍLIA ANSERMET (2)
Françoise Ansermet, 20 anos, calvinista, francófona e natural do Cantão de Vaud, chegaria ao Brasil a bordo do Urania. Parente próxima da familia homônima, ocuparia ela na colônia a casa 95 e o lote 78, casando-se após abjuração, com Jean-Abraham Beroud, também de Vaud. O casal teria se radicado em Ubatuba, a partir de 1821.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

4 - AS NEGOCIAÇÕES


Se para parte da população suíça, abandonar os cantões natais se afigurava como sobrevivência, destas circunstâncias se prevaleceria um cidadão de Gruyères, de vida vagamente aventuresca, chamado Sebastien-Nicolas Gachet, que – aliado a um francês, Jean-Baptiste Jerome Brémond, ferrenho defensor do antigo regime – pretendia obter vantagens financeiras do momento histórico.
Este cidadão, em maio de 1817, declara junto às autoridades cantonais, estar proposto a se estabelecer como fazendeiro no Brasil, representando também os produtos manufaturados suíços no país. Os planos de Gachet evoluiriam ao perceber o interesse do Cantão de Fribourg em se livrar dos estrangeiros e do excedente populacional, conseguindo ele do Conselho de Polícia o apoio necessário para obter sem grande dificuldade, uma carta de apresentação que na prática o transformaria em um agente diplomático encarregado de negociar junto à corte portuguesa, o estabelecimento de seus compatriotas no Brasil.
Na verdade, se o objetivo explicitado é o de manter um fluxo de colonização permanente para terras brasileiras; em caráter particular e sem que as autoridades de Fribourg o saibam, o "cidadão de Gruyères"
[1], chegado ao Rio de Janeiro em 3 de outubro de 1817 no veleiro francês Emilie, deseja propor também ao soberano português a exploração por um grupo de capitalistas, da citada colônia, cuja empresa atuaria concomitantemente como agência de imigração e sociedade colonizadora. A empresa adiantaria aos suíços e moradores da Suíça desejosos de partir, as quantias necessárias, ficando, contudo, como única proprietária das terras concedidas pelo governo português, além do direito de comercialização exclusiva na Europa, de alguns produtos brasileiros mantidos sob monopólio da coroa (diamantes, madeira de lei etc.), podendo mesmo dispor da terça parte do que lhe seria consignado pelo próprio governo.
Recebido pelo soberano ainda em outubro, se mostraria este diplomata assas habilidoso em suas explanações. Ele, que segundo dados do Registro de Estrangeiros, era de estatura baixa, possuindo uma espessa barba negra e acentuada curvatura na região lombar
[2], encarrega-se na audiência, de exaltar virtudes do colono suíço sobre os demais não só pelo conhecimento técnico das práticas agrícolas e pecuárias mas igualmente pelo que considera suas características conservadoras, contrastantes com as idéias revolucionárias que havia pouco, grassavam em quase toda a Europa. Demonstrando uma singular percepção quanto ao imaginário das elites lusitanas aqui chegadas nove anos antes, enfatiza o reservatório humano que poderá representar seu país, atendendo certamente às declaradas aspirações brasileiras em direção a uma expansão econômica e demográfica. Tendo em mente uma colonização de fluxo permanente sob a égide da sociedade migratória, chega mesmo este singular diplomata a acenar com o fornecimento anual de 2.000 indivíduos.
A resposta brasileira é positiva. O principal objetivo da viagem de Gachet, porém, será logo descartado pela recusa do governo português em tratar a migração através de uma intermediação privada. No entanto, as autoridades lusitanas, sensíveis aos argumentos de um crescimento demográfico calcado no que se afigurava como um contingente de laboriosos indivíduos, católicos e fiéis a coroa de adoção, bem como oriundos de um país que jamais se poderia contrapor a Portugal em reivindicações futuras, aceitam a proposta, desde que tratada diretamente com os governos cantonais.
A questão recolocada em suas bases originais exigiria naturalmente de Portugal a nomeação de um representante junto a Dieta Helvética, conforme o próprio Gachet assinala ao príncipe João. Frustrado, pois, em seu interesse maior, o ardiloso diplomata reconduz o obscuro sócio ao centro nevrálgico dos acontecimentos, sugerindo o nome de Brémond, na qualidade de fervoroso realista e "antigo secretário de S.M. Luiz XVI", para o consulado português na Suíça. Tal proposta, equivalente na prática a se entregar ao lobo a guarda do rebanho, será efetivada em 2 de maio de 1818, quando o Ministro Thomaz Antonio de Villa Nova Portugal, que sucedera o reticente Ministro Bezerra, notifica a Dieta Helvética sobre a nomeação.
As negociações não se desenvolvem sem oposição da Inglaterra, principal aliada de Portugal, para a qual certamente o estabelecimento no país , de artífices e tecelões, poderia comprometer a dependência brasileira quanto ao manufaturado britânico. A este adversário reservaria Gachet, nos incontáveis textos que produziu ao longo de 1818, o traço mais ferino de sua pena, denominando-o "inimigo de todos os governos", buscando "aniquillar em todas as nações as artes, a indústria, e o comércio, e apoderar-se da autoridade para estabelecer a sua tyrania e o seu monstruoso monopólio exclusivo".
Em sua tarefa de atribuir aos britânicos toda a sorte de mazelas que viessem a ter como efeito causar impacto junto a aristocracia e a classe dominante, Gachet habilmente se reporta a revolta de escravos ocorrida anos antes no Haity:

"Não foi ella que excitou os espiritos para a revolta dos negros e mulatos de S. Domingos, que lhes forneçam armas e munições de guerra, pa. se subtrahirem pr. ella a authoridade legitima e que se apressou de reconhecer a Independência d'aquelles assassinos ainda … sangue de seus senhores e de seus benfectores?"

Desnecessário questionar quais os supostos benefícios que haveria em ser escravizado e o texto de Gachet, no que se refere aos cativos, já antecipa claramente o que ocorrerá na colônia, adotando o imigrante sem qualquer restrição os costumes vigentes, tornando-se proprietário de escravos sempre que as suas condições sócio-econômicas o permitiam. De qualquer forma, o diplomata gruyeriano demostra uma vez mais ser um habilidoso defensor de suas posições e um atento articulador quanto a distinção das preocupações emergentes naquela sociedade pós-colonial.
Ao longo dos primeiros meses de 1818 os partidários da migração gradualmente se fortalecem, prevalecendo sobre a facção tradicionalista que apoiava as posições inglesas. Ao contrário da migração permanente, contudo, o governo decide por uma experiência inicial, a partir da qual se avaliaria a conveniência ou não de um fluxo constante. Em contrapartida, os interesses da corte em uma migração militar associada, para a criação no Rio de Janeiro, de um regimento de estrangeiros, não encontrará eco entre os administradores cantonais. Restava pois, escolher o sítio exato para a futura colônia e formular o tratado definitivo.
[1] Como também é referido Nicolas Gachet no Brasil.
[2] AN – Entrada de Estrangeiros.

sábado, 24 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 5

FAMÍLIA ANDRIÉ
Jean Louis Andrié, protestante, natural de Neuchatel, chegou ao Brasil com 29 anos, a bordo do Debby Elisa. Uma vez em Nova Friburgo ocuparia ele a casa 93 e o lote agrícola 06. Sua estadia na colônia, no entanto, é breve, partindo ele em março de 1822 para Minas Gerais. Em 1824 já será assinalado em Cantagalo.
Curiosamente, em fevereiro de 1836, o pastor luterano Frederic Oswald Sauerbronn, refere-se a um "Johann Ludwig Andrä", radicado no Rio de Janeiro. Será uma adaptação do nome do imigrante, ao alemão?
FAMÍLIA ANKLIN
O ferreiro Jean Anklin, germanófono, católico e nascido em Liesberg, Jura, no ano de 1772, embarcaria no Camillus, juntamente com a esposa e sete filhos. Destes, a mulher Marianne e o pequeno François, de 14 anos, sucumbiriam no navio, tendo os corpos lançados ao mar. Os sobreviventes ocupariam na colonia a casa 72 e o lote 37, partindo em torno de 1825, para Campos dos Goytacazes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

3 - A MIGRAÇÃO SUÍÇA DE 1819 - MOTIVAÇÕES LUSO-BRASILEIRAS


No Brasil, desde meados do século XVIII já se anteviam os contornos do aparato ideológico que desaguaria quase cem anos após na migração européia. Em um trabalho formulado em 1753, o padre jesuíta Ribeiro da Rocha
[1], talvez o primeiro intelectual a se preocupar especificamente com a escravidão, alertava sobre os, para ele, temíveis "domésticos-inimigos", no caso os cativos cuja população crescia ano após ano, mormente pelo tráfico constante.
As preocupações explicitadas pelos teóricos que o seguiram, transcendiam também a mera administração do conflito inerente a polarização senhor-escravo, e desaguavam na exigüidade de brancos frente a fabulosa onda negra, incluindo-se entre estes o grande número de alforriados. Ainda assim, os primeiros indivíduos que abordam explicitamente a questão do negro no Brasil não pregam ainda a solução imigracionista, limitando-se a acentuar os perigos originados da disparidade numérica entre dominados e dominadores, questionando-se sobre o que fazer em uma suposta e posterior emancipação. Tais reflexões, surgidas em uma sociedade que apenas iniciava sua trajetória de colônia para país independente, seriam influenciadas pelo crescente medo suscitado ante as revoltas escravas, notadamente a bem sucedida rebelião de São Domingos, iniciada em finais do século XVIII, a qual culminaria na independência do Haiti em 1804 e na conseqüente subversão das relações entre antigos senhores e escravos, na ilha.
Os textos emancipacionistas de então, longe de expressar uma repulsa ao modelo escravista pelo que continha de injusto, prendiam-se aos temores quanto a segurança pessoal da classe dominante "pela multiplicação indefinida de uma população heterogênea inimiga da classe livre"
[2], bem como, abordavam de maneira surpreendentemente crua questões como a do sangramento de divisas ao qual estava exposto o país pela compra no exterior daqueles que "viveriam apenas o curto espaço de oito a dez anos"[3]. Opunha-se, pois, a maioria destes teóricos, ao tráfico negreiro, bem como procuravam "construir" uma nacionalidade através de postulados nos quais "recuperariam" as populações pobres e marginalizadas (índios, negros emancipados e brancos pobres) para, sob severa vigilância e normatização virem estes a se tornar produtivos segundo a ótica e para a classe dominante.
Gradualmente esta posição, no que tange ao aproveitamento predominante do elemento nativo e da população já existente modifica-se, notadamente com a "cientificização" por parte principalmente de intelectuais europeus, da suposta inferioridade racial do negro e do índio. Desnecessário afirmar que os lugares destinados ao progresso na estratificação pretendida, correspondia aos brancos entre os quais figurava com destaque a decantada "raça saxonica"
[4].
Cabe naturalmente aqui uma pequena ressalva e o que hoje se nos parece cristalino, posto que nos baseamos em fatos já ocorridos, não terá sido certamente um caminho único e sem variáveis, tampouco linear, mas sujeito a avanços e recuos. Na verdade, o triunfo da corrente emigracionista somente ocorreria a partir da segunda metade do século XIX, sendo evidente, porém, que os fantasmas que provocaram as mudanças tal como ocorreram, já de muitos anos habitavam o imaginário das elites e desta forma podemos considerar a migração suíça para Nova Friburgo, como o ensaio de uma tendência que se firmaria a partir de então.
Para Portugal, aceitar a migração estrangeira para o Brasil nos primeiros anos do século XIX, implicava na abolição das restrições ainda em vigor. Em arrastada decadência e zeloso de seus domínios ultramarinos, o reino português entendia o estabelecimento de estrangeiros em sua porção da América como grave ameaça ao pacto colonial e mesmo a posse efetiva do território. A fuga em 1808 da dinastia Bragança em direção ao Brasil, acompanhada por um séquito de militares, nobres palacianos, burocratas e religiosos, comprometerá toda a cristalizada lógica na qual repousava a política lusitana. Portanto, a necessidade de se ver o Brasil não mais como colônia, mas como virtual metrópole, com cujos problemas haveriam de conviver seus expatriados dirigentes por tempo indeterminado, bem como a dependência desta mesma classe aos aliados britânicos tornarão imperativas soluções que a modorra palaciana de Lisboa, tranqüilizadoramente longe, pudera até então postergar. O país desta forma experimentava também parte dos ventos convulsionados de uma Europa pós-revolução francesa e não bastando as guerras napoleônicas, tinham as elites, aparentemente a salvo na América, que estremecer ante o que se lhes afigurava como a ameaça do negro.
A transferência da corte portuguesa para o Brasil, exerceria, portanto, o papel de catalizador de um longo processo, no qual o estado nacional deveria ser edificado sob a égide política, étnica e cultural européia, cujos dirigentes, uma vez deste lado do Atlântico, constatariam ser a população branca, insuficiente, sob vários aspectos, para conduzir o país pelas sendas que o levariam a ser o “arbitro” do mundo. Uma vez decretado o colapso do colonialismo tradicional, restava a remoção gradual dos éditos proibitivos, inserindo-se em tal contexto o estímulo à entrada dos açorianos e a permissão para que estrangeiros tivessem acesso a terra. Objetivava-se em curto prazo, não só o incremento da produção de gêneros alimentícios, bem como a ampliação do mercado interno.
Quando, pois, Sebastien-Nicolas Gachet, chegou ao Brasil trazendo no alforge a proposta de uma colonização helvética, na qual ele próprio e seu sócio capitalista Jerome Brémond
[5] (francês e realista fanático) esperavam auferir grandes somas e uma série de vantagens comerciais, o cenário na Corte do Rio de Janeiro não poderia ser mais propício. Estava, pois, aberto o caminho que levaria ao deslocamento de mais de dois mil indivíduos de seus cantões de origem, atraídos por mirabolantes propagandas e sub-reptícias articulações entre Gachet e Brémond, cujo trajeto e assentamento custaria a bagatela de mais de quinhentas vidas.


[1] Azevedo, Celia M. M. de .Onda Negra, Medo Branco. Paz e Terra
[2] Idem
[3] Idem
[4] Idem
[5] Segundo Benoît de Diesbach-Belleroche, Jean-Baptiste Jérôme Brémond, dito “cadete”, nasceu em Brignoles (Var, França) em 08/02/1760 e faleceu em Semsales, Fribourg, aos 10/11/1839. Era filho de Jean-François Brémond, “marchand de draps” em Brignoles, e de Elisabeth Saurin. Burguês de Progens em 06/03/1829 e de Grattavache em 28/03/1829, deixara a França durante a Revolução, refugiando-se em Chavannes près La Neuveville (Suíça) e depois em Neuchâtel. Em 1796 adquiriria a fabrica de vidros e as minas de Semsales. Foi também cônsul de Espanha e de Portugal e Algarves na Suíça. Casou-se em 1804 com Salomé Lugeon, de Chevilly, nascida em Nyon, Suíça.

domingo, 18 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 4

FAMÍLIA ALTER
Anton Alter, sapateiro de expressão alemã, católico, nascido em 09-12-1791, habitava a vila de Roderis, Cantão de Soleure, ao se decidir pelo Brasil. Passageiro do Heureux Voyage, sem passaporte, ocuparia em Nova Friburgo a casa 85 e o lote agrícola 28. Engajado no Regimento de Estrangeiros, criado por Pedro I em 1823, seria preso tres anos depois como desertor. Não há registro posterior sobre este imigrante, na colonia suíça.
FAMÍLIA AMUAT
Jean-Baptiste Amuat, o patriarca desta família, fora condenado a 20 anos de prisão por haver furtado alguns pães durante o ano de penúria (1817), pena esta convertida em degredo para o Brasil. Natural de Porrentruy, Jura, católico e nascido em 02-02-1788, embarcaria ele no Heureux Voyage, juntamente com a esposa Marie-Rose Schimid, 27 anos, e os filhos Marie-Hélene, 6 anos, e Antoine, 3 anos. Todos chegariam a bom porto, no entanto, a família em abril de 1821, abdica da casa 54 e dos direitos sobre parte do lote 04, partindo para Lisboa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 3

FAMÍLIA AGUET
O padeiro Pierre Aguet, católico que se expressava em francês e alemão, habitava a vila de Estavayer-le-Lac, Cantão de Fribourg, ainda que sua família fosse natural de Vaud. Ele embarcou no Urania para o Brasil, juntamente com a esposa Marie-Anne Ramuz, chegando a bom porto. Na colonia de Nova Friburgo viria a ocupar a função de alcaide, desentendendo-se em pouco tempo, no entanto, com o inspetor da colonização estrangeira. A ele e esposa seriam destinados a casa 68 e o lote agrícola 66, não havendo qualquer referência ao nascimento de filhos. O casal faleceu em data incerta, após 1828.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

2 - A MIGRAÇÃO SUÍÇA DE 1819 - MOTIVAÇÕES SUÍÇAS

Desde a Idade Média cultivaria a população suíça uma inegável vocação migratória, provocada principalmente pelo crônico desequilíbrio entre demografia e economia. O êxodo inicialmente assumiria característica temporária, como o recrutamento de soldados por nações estrangeiras e as viagens de artífices, que se afastavam dos cantões natais apenas em determinadas épocas do ano. A partir do século XVIII, no entanto, o deslocamento se reveste de um caráter definitivo, com grandes levas de suíços ocupando regiões da Prússia, Espanha e Rússia. No século XIX, o sonho americano substituirá a Europa e a seta migratória desloca-se para o Novo Mundo, movimento que iria se manter até cerca de 1890, quando finalmente a industrialização efetiva do país e sua estabilidade econômica, revertem a tendência imposta pelo imperativo geográfico. Desta forma, se o movimento migratório para o Brasil em 1819 traz em seu bojo as frustrações pela crise econômica dos anos de 1816 e 1817, tal escolha há muito fazia parte da história helvética.
Mas o que terá sido especificamente esta crise? Combalida por anos de guerra até 1815, a França, sob cuja esfera permanecera a Suíça por cerca de dois séculos, tentava proteger a sua própria economia através de elevadas tarifas aduaneiras. Tal circunstância iria se mostrar sobremaneira danosa para o pequeno vizinho que dependia em grande parte do mercado gaulês, mormente que, no restante da Europa, o produto industrializado suíço sofria a implacável concorrência do similar britânico, multiplicando o desemprego.
À paralisação da indústria se seguiria uma carência alimentar motivada por desfavoráveis condições climáticas, desastrosas para as colheitas de 1817. A crise conjunta reflete-se em todas as comunidades, produzindo uma legião de mendicantes, de miseráveis, de desesperados. Chegava, pois, o momento de emigrar em massa para o Novo Mundo, ainda que aos rigores do mar se somassem muitas vezes os riscos que representavam os comissários inescrupulosos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

LITERATURA SOBRE O TEMA


ARAÚJO, João Raimundo de e MAYER, Jorge Miguel (org.). Teia Serrana - Formação Histórica de Nova Friburgo. Ed. Ao Livro Técnico, 2004.
BON, Henrique. Imigrantes - A saga do Primeiro Movimento Migratório Organizado rumo ao Brasil às portas da Independência. Ed. ImagemVirtual, 2004.
BON, Henrique. A Noite dos Peregrinos. Ed. ImagemVirtual, 2008
DUCOTTERD, Georges e LOUP, Robert. Terra! Terra!. Ed. Guiapar, 1997.
NICOULIN, Martin. A Gênese de Nova Friburgo. Fundação Biblioteca Nacional, 1995.

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS - 2

FAMÍLIA AEBY (1)
Hans Aeby, sapateiro de Profissão, natural de Wunnewill, Cantão de Fribourg, germanófono e luterano, tinha 50 anos ao embarcar no Deux-Catherines. Ocupou na colônia de Nova Friburgo, a casa 52 e o lote agrícola 50, falecendo, contudo, ainda solteiro, em 12-04-1827.
FAMÍLIA AEBY (2)
O padre Joseph Aeby, inserido no movimento migratório para atender os colonos de lingua germânica, contava 25 anos ao embarcar no Heureux-Voyage. Natural da cidade de Fribourg, faleceu por afogamento no rio Macacu, antes mesmo de chegar a Nova Friburgo, em 07-01-1820.

sábado, 10 de janeiro de 2009

OS INDIVÍDUOS, SUAS HISTÓRIAS E SUAS FAMÍLIAS

Assinalaremos aqui os indivíduos que participaram da migração de 1819, bem como uma pequena história de cada um.
FAMÍLIA ADDY:
Benoît-Nicolas - Cultivador de profissão e nascido em 21-03-1789, era ele natural de Orsières, Cantão do Valais. Viajou no veleiro Heureux Voyage juntamente com a esposa Anne-Lucie ...?..., nascida em 10-06-1787. O casal perdera um filho de nome Nicolas, com cerca de um anos, em Dordrecht, aos 19-08-1819, pouco antes do embarque.
Em dezembro de 1819, nas proximidades de Tambí, lhes nasceria João Mauricio Addy, o qual não sobreviveria um mês, falecendo em Nova Friburgo aos 17-01-1820. Uma filha, Maria Theotita, viria ao mundo em 26-04-1822. Esta se casaria em Nova Friburgo com João Luiz Tardin, filho de imigrantes, deixando vasta descendência em Sâo José do Ribeirão.
Esta família, nos primórdios da colonia, ocuparia a casa 13 e o lote agrícola 39.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

1- A MIGRAÇÃO SUÍÇA DE 1819 - INTRODUÇÃO

Este blog destina-se a pesquisar, divulgar e disponibilizar dados sobre um episódio ainda obscuro da história nacional, relegado, por vezes, a duas ou três linhas em publicações esparsas, ou seja, a migração suíça de 1819, que deslocaria da Europa Central cerca de 2000 indivíduos, destinados à Colônia de Nova Friburgo. Desde a saída de seu país natal até o Brasil, este contingente seria dizimado em função de multiplos fatores, o que resultaria na morte de um em cada quatro imigrantes, no litoral holandês, a bordo ou nos primeiros meses de adaptação aos trópicos.
Analisaremos ainda, sob os pontos de vista histórico, sociológico e econômico, a trajetória - na medida do possível, uma vez decorridos quase dois séculos - de cada um dos colonos, fornecendo aos interessados no estudo deste primeiro movimento migratório institucionalizado para o Brasil, elementos para a compreensão do mesmo através de uma leitura alicerçada nos preceitos da história do cotidiano.
Este trabalho, enfim, pretende se tornar um respeitoso tributo a todo imigrante, a todo individuo que, seja por guerras, fome, expulsão ou aventura, experimentou tal desenraizamento e nele viveu ou morreu.